ENFISEMATOLOGIA HUMANA

 Enfisematologia Vitidiana


Tento envelhecer a alma e não consigo.

Quanto mais o tempo marca o físico,

mais rejuvenesço por dentro de mim,

em atitudes que nem controlo tanto.


Permito-me ousar, falo o que penso,

não procuro

nem pesar ou medir o que irão pensar,

A antítese se instala e esbarra na ironia.

Se amadurecer é ultrapassar valores,

prefiro viajar na “irresponsabilidade”

de adolescer eternamente.


Quanto mais o tempo marca, maior

o descompasso,

o contraste dos passos de pés descalços,

do tempo que vai em vão, em raríssimas horas.


Andei com sinais de Wi‑Fi, refiz uma rede

da qual nem pudera sentar,

descansara no magnetismo

de alma que, não envelhecida,

estabilizara uma conexão a Ti.


A antítese se instala e esbarra na ironia:

o físico, sem rejuvenescer.

Se amadurecer é ultrapassar valores,

de bolsa que cai, não cai, prefiro viajar

na inconsequência de adolescer eternamente,

a enxergar vítimas da intolerância corriqueira

e mesquinha.


Tem uma tristeza instalada — precisaria partir

e nunca mais sentir essa dor.

Uma tristeza doída que invade a vida,

arrasta a alegria, tira minhas risadas,

acaba com meu sorriso, tira forças.


Isso tudo é muito ruim — queria cavar esta dor,

jogá-la bem longe, para que ela

não poluísse nada, não atingisse ninguém,

feito bomba desativável.


É um vazio depressivo, um cheio inoportuno,

uma depressão que vem se instalando;

às vezes mascara, mas sempre reaparece.


Aumenta minha necessidade de voar:

preciso de ar nesta “enfisematologia vitidiana”.

Procurei uma vida para esquecer uma dor.

Quero ar — em todos os sentidos.

03,10,2022